O Português (Parte I)
Não sei o q é q nos distingue do resto do mundo (ou talvez saiba...), mas é um facto que reconhecer um português não é propriamente muito difícil.
Neste fim de semana saí com a malta do trabalho. Em Estrasburgo não existe uma zona que aglomere vários bares, tal como acontece em Lisboa com o Bairro Alto, Santos ou a 24 de Julho, daí ser frequente os franceses escolherem um bar no qual irão passar grande parte da noite. Também é verdade que Estrasburgo não é assim tão grande e em menos de 5mins a pé consegue-se ir de um bar até outro. E assim foi, por insistência minha, eu e os meus e colegas (1 espanhol e 1 australiano) passamos por uns 4 ou 5 bares na noite de 6ªfeira.
Um dos bares a que fomos, o "Le Mosquito", é um bar conhecido por ser especialmente frequentado por sul americanos. O bar estava especialmente cheio e foi preciso uma autêntica travessia (com algumas inadvertidas apalpadelas pelo meio) para atravessar toda a multidão e chegarmos à outra ponta do bar onde encontramos uma mesa. Apesar da vizinhança barulhenta argentina da mesa do lado (não paravam de cantar hits sul americanos...), passamos um bom bocado naquela mesa ao sabor da famosa Kronenbourg (a cerveja da região de Alsace). Quando era a minha vez de ir buscar mais uma rodada, junto ao balcão, reparei num rapaz. Estarão vocês a pensar "este rui é mesmo panasca...nunca nos enganou!". Desculpem, mas ainda não é desta que me revelo. A razão pela qual reparei no tipo foi porque ele parecia português.
Camisinha dentro das calças, sapatinho de vela e cabelinho à puto anormal (repararam na sequência de diminuitivos que usei?) era assim que o tipo se apresentava. Claramente e assumidamente era um dito "beto". Quando o ouvi falar, estava a falar num espanhol muito manhoso, o que aumentou ainda mais a minha suspeita. Enquanto tentava desvendar o mistério, começou a tocar uma música dos tribalistas, à qual ele reagiu gritando em inglês "ooooohhhh, this is portuguese!" e desatando a berrar a letra da canção. "Que anormal...", pensei eu, mas contente por ter confirmado a minha suspeita.
De volta à mesa, continuando ao som dos hits argentinos, contei o sucedido aos meus colegas. O australiano olhou para o tal tuga e disse "he's definitely portuguese. It's the hair!", Um capacete... não me ocorre melhor maneira de descrever o penteado do tal tuga! "You all have that kind of hair, even you!"... Senti-me chocado.. De repente a minha poupinha ridícula (e idiota) tinha sido cruamente comparada ao cabelo de um beto, ao mesmo tempo que se revelava como símbolo da identidade nacional!
Na Alcatel trabalha um outro português, cujo cabelo é mais normal que o meu, mas igualmente um típico risco ao lado português, nem muito curto nem muito comprido. Parece que o tempo dos bigodes já lá vai e penso que o cabelo dos portugueses começa a ditar uma nova expressão cultural além fronteiras.
Ao sair do bar, passei por ele e disse-lhe em tom solene "Viva o Benfica!" (expressão que resume toda a cultura portuguesa) ao qual ele me respondeu "Português? Espéctaculo, mas eu sou do Porto!"... cabrão, pensei eu... depois de uns cordeais minutos de conversa, mergulhei de novo na noite de Estrasburgo...